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quinta-feira, 28 de julho de 2011

A minha casa...


A minha casa fica num estreito beco,
de uma insignificante cidade
de um pequeno país
do planeta azul
do Sistema Solar
da Via Láctea...

E eu, daqui,
trancado,
do meu exíguo quarto,
como uma diminuta semente,
que julgo conhecer,
guardado nesta caixinha de fósforos,
contemplo extasiado o universo, lá fora,
pela única vidraça
que a minha mui humilde habitação possui
e sinto tudo, o que avisto, como meu
e tão acolhedor, como o leito, onde sossego.

A porta dos fundos
era aberta, somente enquanto dormia,
para que em sonhos caminhasse
pelos mundos profundos de mim.
Perdi-lhe a chave
ou continuo acordado,
sem que queira adormecer,
e sem barulhos na mente...
Agora, é a da frente,
que está escancarada,
para que entre mais luz,
sempre que seja hora,
de ela me querer espreitar.

Desperto



Falta-me, agora, tempo,
para ter tempo.
Houve tempos,
em que o tempo era infinito
e eu tinha tempo
para atentamente, viver o momento,
como se o tempo não existisse
e somente eu estivesse totalmente presente
no cosmos de mim,
e vislumbrasse a verdade,
e experimentasse a felicidade, como eterna,
porque a tempo estivera desperto e vivo.

E deverei eu, com tempo,
apagar de vez o tempo
e achar-me no silêncio, acordado
e de vigia
para que seja Tudo
e Uno.

domingo, 24 de julho de 2011

Estrelas que fui

Constam, ainda, em mim, tantas partículas
das estrelas que fui,
que, todos os dias, me inspiro no Sol
e teimo em brilhar.
E há horas em que consigo,
mas sem que queira
ou dê por isso.
Quando me esforço, apago-me.
Tenho de me esquecer de tudo,
completamente de tudo;
do passado,
do futuro,
me esvaziar de tempo,
e vencer as fronteiras de mim,
para que a luz me rasgue a mente
e eu até consiga sentir o Universo
como estrelas,
todas as que já fui.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sim ou não?

Já não sei,
se não sei o que quero
ou se não quero
o que já sei.
E o sim,
pode justificar um ou outro não.
E o não,
pode até traduzir receio de um eterno sim.
E não
pode ser sim,
mas querer-se não.
E o sim faz-se não
mas poderá também voltar a ser afirmação.
E o sim,
quando, é sim, é sim,
até que seja vencido,
por outro sim
ou por que não.

Nada se afirma ou nega
para toda a vida;
sim ou não?

Já não sei
o que é o sim,
e não.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Valho ser gente e feliz

Eu não sou mais do que um espelho teu,
sempre que de mim falares.
E se te gostares, a sério, dirás, incessantemente, o melhor a meu respeito,
mesmo que não mereça.
Mas, se porventura não fores capaz de, olhar tão profundamente
para o que te perturba,
assumir os erros que te pertencem,
desvendar o Eu que te totaliza,
certamente que tudo me arremessarás, por inconsciência,
e serei a mais pura vitima de toda a tua maleficência,
em vez de, pedires ajuda,
e procurares salvação.

O silêncio pode também ser revelador,
mas é mais difícil de ler.

Quanto mais se nega o que se possa ser
mais se confirma o que se esconde.

Somos da mesma espécie, com ligeiras diferenças,
que constantemente se persiste em valorizar,
para que nos possamos parecer, uns com os outros, mais desiguais.

Eu, santo, nunca serei,
tentarei sim desbravar-me, até chegar ao que sou, cá dentro,
sem mais imitar o que exigiram que fosse,
porque valho ser gente
e estar feliz!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

El Carmen

Filha és de Clarice
e Quintana
e trajas-te de diva Florianopolis,
e nas veias corre-te o sangue das cores de Fossari,
e a dramaturgia de Nelson tem igualmente morada em tua alma
e contracenas com as mais belas canções de Vinícios,
como se em palco pudesses também ser a bossa-nova…
E as palavras que te povoam,
saem-te, como pássaros de oiro, com asas de céu,
para que se cumpram nas rotas do Atlântico,
e sejam pedras da grande frátria lusófona
e a face Humana do êxtase, esculpidas pela tua poesia.

João Marques Jacinto

(El Carmen, uma singela homenagem de João M. Jacinto à grande poeta brasileira Carmen Fossari, autora do livro Heresia.)

Eu não...

Eu não sou a outra parte de ti,
mas queres-me em teus desejos.

Antes amado
do que desejado,
e harmonia
que variável!

Nem a mim,
por enquanto,
me pertenço inteiro.

Nem sei se alguma vez me serei.

Face

Há em mim uma face ardilosa,
a do ego,
de tantos jogos de desejos,
que me é difícil embair.
Mas a face da consciência dissolvê-la-á,
sem que o ambicione fazer.

E eu apenas vivo a cada momento
trabalhando a persona
à medida da felicidade
de minha contemplação.

sábado, 9 de julho de 2011

Hoje, perdi-me...

Hoje, perdi-me no tempo, contemplando o céu,
atento à dança espontânea dos pássaros,
como se me iludissem de que era eu, quem me movia
e chilrearam-me o coração de tamanha alegria
e atravessaram as nuvens já limpas e o arco-íris
e poisaram nos verdes vivos das árvores,
e brilhantes, por tanto enchardas das águas de Abril…

Distraí-me de tudo o que me preocupava
e exigia atenção,
e achei-me em êxtase
enquanto girava o olhar por tão vasto azul
como se me sentisse, também Primavera.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Estou vivo...

Estou vivo de tanta coisa,
que me é difícil morrer em algumas,
mesmo as que já pereceram
ou são prescindíveis.

Será a liberdade uma utopia
ou terei eu o hábito de me prender ao que me iluda
para que me ache livre?

É bem mais fácil ter por perto a infelicidade
e ter o consolo de falar à cerca dela,
do que ter a coragem de desencobrir
o que me possa fazer bem
e habita desde sempre
sem que saiba ainda a minha vera morada.

A minha religião é a vida
e o templo onde oro
é esta esfera de tantas estrelas
que me circunda, desde mim, no centro,
até ao infinito de toda a essência do universo.

Estou vivo de tanta coisa
quando me bastava estar bem vivo apenas de mim.