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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Boas noites


Acentuam-se os rumores de inquietação,
desde a imaculada
até ao velho, quando morrer.
E antes que seja Entrudo,
libertará, o povo, o grito
ao que teimou em ser estrutura,
antes que o deus do tempo
beijasse o caminho do equilíbrio,
ao fim do ciclo.
E a dureza do inverno prolongar-se-á
até à conquista de outra primavera,
pois ainda habitam flores no coração dos esperançados,
apesar de fatigados por tanta imprudência
e vil injustiça.

Por fim, a mais recente das constelações
cairá por terra
por que no céu
só há lugar para estrelas
que alumiem
boas noites,
ou então, que seja dia.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Berço


Quanto menor for
o berço da infância,
mais difícil se torna, de sair,
e desabitar o futuro,
para que se;
abrace a consciência
em liberdade,
faça a grande viagem
ao mundo do(s) eu(s),
descubra paisagens do tempo,
mergulhe às profundezas da existência,
envelheça ideias,
aceite o óbvio
e seja o que se é,
sem que se represente o drama
da insuficiência
e do medo,
com as personas
do orgulho
e do poder.

Só o silêncio
abre caminhos.
As palavras são muitas
e estão presas.
Não sei mais o que quero,
sem que me prefira
e mate ao propósito
de poder renascer
e ser diferente,
sendo sempre o mesmo...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Valha-nos Deus


Se a vontade de Deus é bem mais poderosa,
do que quaisquer de meus terrenos e simples quereres;
no que faça, mesmo que peque e não me contenha,
e não consiga, mesmo, muito acreditando crer e a Ele ser temente,
então tudo não passa, porventura, senão, de mais alguns de seus santíssimos caprichos.

Mas, apesar de não me ser fácil, entendê-Lo, aceito-O, tal como O imagino.
Cada um recria-O à sua maneira.
Ele, também, assim fez connosco.

Valha-nos Deus!
Deus nos acuda
e nos livre, também de Si; Sua justiça divina,
e de todo o mal!
Amém!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Aqui...


Aqui, quem capitaneia é a inconsciência
dos incompetentes;
uns possuídos pela ambição,
cegos por egolatria...
Outros incapazes de se comprometerem
com pertinentes decisões,
vendidos às conveniências...
E há os demais,
que sofrem de (des)ilusão de promessas,
vergados à gravidade do abismo,
desmembrados do que é factual...

Mas o melhor dos mensageiros retrocede,
para nos trazer,
o que ainda não foi dito,
aqui, em baixo,
confundir,
e esclarecer.

Tudo merecemos,
por tanta ignorância.
Deveríamos, já ter aprendido.
E aprendemos,
mas devagar.
E tão rapidamente
logo tudo se esquece,
e repete;
repete, repete, repete...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Guerrear pela vida


A morte é a mais violenta derrota
de qualquer batalha.
Todo o guerreiro tem o desejo de vencer,
na luta pelo que defende.
Vitorioso nunca será ao aniquilar
a outra parte, do conflito,
também tão honrosa, nobre
e audaz de si.

Guerrear pela vida
com tudo o que mexa,
para que se construa o Homem-deus
de todas as civilizações
e não o carrasco absolutista
prepotente de verdades,
reflexo de fragilidades
tanta mentira...

Nada há...


Nada há, que, justifique
o injustificável,
se esconda
no mais completo dos silêncios,
não se revele a seu tempo,
seja um (a)caso isolado...

Nem todo o espelho é frágil,
mas toda a pose tem um sentido
e serão poucos, os que se saberão olhar
e ver.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Greve Geral?!


Greve Geral?!
Vão, mas é, trabalhar!...
Como é possível, quando há quem ainda não
esteja suficientemente rico,
à custa da vossa labutação
e tenha já, para roubar, muito mais tempo?

Greve Geral?!
O que ganham com isso?
Nada!
Mas há quem precise do vosso esforço,
para que lhe cresça os lucros
e nada vos sobre!

Greve Geral?!
Vão, mas é, trabalhar,
que o senhor engenheiro vos agradecerá
com mais umas quantas promessas de nãos!...

E viva,
in feliz democracia!
Viva!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Só...


Só por que me feriste no coração,
não me roubarás a alma.

O tempo lava-me de más lembranças,
que (me) saiba(m) perdoar,
para que, me (re)crie, sempre, caminheiro
sem nunca pressentir, por perto,
a loucura do teu desamor,
o ódio de tamanha inveja.

Quem se nega a crescer
será pobre para a eternidade.

Lua, luar


Se o sonho é meu luar,
então, serei Lua,
e salpico os pés de mar,
e deito-me ao comprido
pelo enlevo da noite,
e bato de mansinho
na vidraça de uma janela,
como se a brincar,
fosse ainda menino
e tu, ela.

domingo, 14 de novembro de 2010

É deparvado...


É depravado
declarar-se iluminado,
e denegrir,
compensando-se assim das trevas,
ateando-se ao inferno
do sem fim pequenino.

Cada um tem o céu que conquista.

Que não se fale de amor por necessidade,
mas antes, se o faça, com franqueza.

(In)felicidades!


Bastou um momento infeliz
para que manchasses, para sempre,
a tão desejada felicidade.

Eu perdoo-te,
mas tu, nunca.

É no silêncio
que a culpa nos esmaga.

(In)felicidades!


(Não teria sido "amanhã", mas na tarde de hoje.)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Não (me) consigo...


Não (me) consigo
sair desta parte de mim
a que me entrego,
fugir do que não quero
sem que magoe,
descobrir no que serei
sem que me sonhe,
abater de vez
sem que me repita,
para que ressuscite
inteiro,
sem que me negue
presente.

Sobreviver


Não sei se há gente má,
sei que há boa.
Para se sobreviver
não é preciso tanto,
somente o que nos baste.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Engano


Quanto mais me exibo,
mais (me) (vos) engano,
até que no silêncio da aceitação,
humildemente, me passe despercebido
e cumpra, tão simplesmente,
a plenitude de mim.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um qualquer Sebastião


Estamos demasiado pobres
para sermos, agora, grandes.
Até os que se julgam com posses
não lhes chega a riqueza,
para que, aqui, a exerçam dignamente.
Em tempos, houve gente humilde
que fizera de sua coragem
a fortuna de todos.
Hoje, por ambição temos, poucos,
mas que chegam,
apagando de nós a memória,
traidores, grandes,
da felicidade alheia;
de ricos, pobres...

Os homens de viril raça morreram.
Somos viúvas, em terra estéril,
povoada por sombras,
sem esperança
de que um qualquer Sebastião nos renasça
deste medonho nevoeiro,
difícil de levantar.

Conflito


Tenho receio de morrer,
mas estimulo-me ao abismo.
Esta incognitude de desejo
e aparente incongruência de viver
são bem mais intensas do que eu,
para que, tão simplesmente, desapareça no nada,
sem que recrie os limites do desassossego
e o que vem das profundezas de mim,
como se, fosse sem querer,
a todo o momento, e anseio,
o que me (re)desenho aos apelos do caminho,
e antes, nunca o tenha sabido.

Se pratico alquimia,
não terei de ser, também, milagreiro.

É o espelho que me mata;
e tremendo sempre foi o conflito,
entre o que hei-de ser, e sou,
e nele (me) reflito,
exagerando, o que compense,
ao que ainda não me sei,
para que a inteligência que me rege
me una até ao fim.

Descanso,
terei mais tarde,
o eterno,
quiça morto.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O poeta dorme


Quando, questiono,
poetizo,
não restam dúvidas,
silencio-me.

O poeta deitou-se
com a pena a seu lado,
e rasgou em mil pedaços
as brancas folhas,
do que poderia, ainda, se quisesse,
ser escrito,
e espalhou-as sobre o leito da noite,
como lençol de tantas vidas, por compor,
onde se forçou a adormecer,
atormentado por tanta impiedade,
sem vontade de, cedo, despertar.

Ninguém sabe
quanto dura o sono do poeta.
Poderá até, não mais acordar.

Resta o que questionou,
para que seja questionável.

O poeta dorme,
com ou sem poesia.

(De)caída


Não gosto de te ver (de)caída,
por tanto de atirares ao chão.
Nas birras,que teatralizas, e bem,
há quem fora indesejada,
uma criança, completamente só,
que tudo quer, mas nunca sabendo,
o que de cada coisa fazer.
Uma princesa paupérrima,
sem castelo, nem palácios,
que a queiram e guardem,
sem beleza que encante
cavaleiro de sonho,
sem dote que a valorize
nem jóias de vida,
que lhe adornem a alma,
sem reino, em alucinações prometido,
sem súbitos que a adorem e sirvam,
nem amigo que a estime...
Quem humildemente nasceu
e só com essa virtude
poderá, quiçá, um dia reinar
no mundo dos belos.

Não gosto de te ver (de)caída
fingindo de vítima
ou ser a glória,
quando te encharcas
na lama do desespero.

Anafada, como moeda de troca,
ao ouro que se vingou,
esperas o perdão do tempo.

Apenas, Um


Nem sempre luto
com o que se me apresenta,
mas com o que julgo desconhecer
e, que desde sempre, me habita,
mesmo muito antes de mim, agora.
É um guerrear dissemelhante,
que deveria não mais enaltecer,
para que me não falte pujança,
e constantemente me vença.
Mas há tanto que me aparta
e inibe à lucidez que apazigúe.
Preciso de água;
que um rio me banhe a alma
e de mim expurgue
esta terra rochosa,
resistente à erosão da esperança.

Tudo depende de como se lê
e sente o que se vê.
Nem sempre está nas minhas mãos
o poder, para mudar a tristeza
que o mundo pesa.

Serei capaz!
Quero ser capaz,
de aceitar todo(s) o(s) Eu(s),
que comigo, constantemente, se cruza(m),
me afronta(m) e desafia(m), ao amanhã,
até que outro, que me espera,
no fim dos fins,
de que nunca me lembro,
mas experimento-o, sempre presente,
ao desenho desta história,
e deste ser de todos,
apenas Um.

Conheço-te


Conheço-te mais,
possivelmente, do que a mim,
para que me enganes,
mesmo que te convenças de tão puro.
Não é no que me dizes
que te revelas;
quanto mais peças, me deres,
mais sentido fará o puzzle.

Conheço-te tão bem
que te adivinho,
antes mesmo que te apercebas,
de desejares
o que te compense,
e o instinto te propõe.

Conheço-te tão bem,
que me confundo
e por vezes, me (des)(re)conheço.

Há quem se esconda...


Há quem se esconda,
em silêncio,
de suas próprias mentiras,
para se contrariar
à certeza dos outros,
ou exagere,
enaltecendo-se de virtudes,
para, sem querer,
justificar todas as inverdades.

A importância que se dá
ao que fere
e se rejeita,
tem a dimensão
do que está fora de domínio
e por resolver.

Tudo faz sentido,
mesmo quando se age
como nunca, convictamente,
se imaginou.
Preferir o caminho errado,
é morrer em si,
ou não voltar a trás.

Querer quem, cegamente,
se procura,
para que se compense
do que em si jamais sentiu,
faz do predador,
vítima sem posses, falida,
e do infeliz sonhador,
um falso herói;
a inconsistência
de toda a ilusão.
Sem nunca saber hora certa,
do que lhe cabe
e pertence experimentar,
para que não tarda,
crescer,
e ser,
e tudo, em si,
ainda, despertar.

domingo, 19 de setembro de 2010

Ladra, cadela, ladra!











Ladra, cadela, ladra!

No cio da ambição
copulas com os cães
da fortuna,
sem faro às soluções.

Persistes em nos estontear,
girando em fechados círculos.

Não há trela,
que te guie a bom caminho,
nem açaime,
que nos controle a raiva.

Já foste em tempos,
de imaginárias vacas-gordas,
satirizada
de a grande porca
(onde todos mamam),
e poderias, agora,
ser coqueluche
usando alma-cheia
de gente viva e feliz,
em vez de presunçosa rafeira,
sem matilha que a honre.

E as crias vão-te morrendo
sem que já haja berço pátria,
e te valham as tetas;
parecendo enormes,
estão mais que secas,
pela desvergonha de alguns.

O osso é mais difícil de roer,
depois de comida toda a carne.

Ladra, cadela, ladra,
que é a vida que nos morde!

Umbigo


Invejas a coragem
a quem é,
o que não és,
e possui,
e nunca serás capaz.
Olha para ti,
e mede-te,
e não para o teu enorme
e feio umbigo.

A idade...


Não é dura a realidade da vida,
mas, antes, e complexa, a da natureza;
de toda a natureza!
A vida (re)cria-se de (im)perfeição,
a natureza é exacta e (re)criativa.

Deverá o Homem aceitar o caminho
que o leva a Deus,
não mais, O (re)inventando,
aprisionado em si,
erradamente,
cristalizado;
contra-natura.

A idade adulta da consciência
é alcançada,
depois de se ter mais de cinco vidas,
mas melhor, e possível,
será vivê-las
em uma só.
Esta não é a realidade da vida
mas, provavelmente a da natureza
e inteligência.

Tenho idade de vida.
Não sei se terei outra,
ou lá chegarei.

Quero mais uns dias


Todas as cores estão comprometidas,
presas no silêncio.
E o negro se abate
sobre este Mar de tantas esperanças.
E ouvem-se amarguradas vozes,
clamando por equidade.
E na grande Praia
jaz uma multidão
esquecida de tantos séculos
e renascer.

Não quero outono
que se complete,
nem inverno,
em que apodreça.
Quero mais uns dias,
somente, mais uns dias,
para que se quebre este sortilégio
de ignorância
e veja finalmente, a lucidez
dos homens bons
como vitoriosa.

Nada acaba...


Nada acaba aqui,
mas como sempre,
e em tudo,
há mais um (re)começo,
do que o fim.

O mar é gigantesco,
mas tem limites
e uma infinidade de portos,
e o barqueiro não deve ter mais pressa,
do que, o que navegue,
sobre as ondas de cada segundo,
ao sabor de, o que o céu indica,
e tanto azul que às águas dá,
e que lhe soprará de feição;
ventanias gravadas de liberdade.
E que tudo o leve até à ilha
de todo o amor,
bem lá no fundo (e)terno de si.

Não pode...


Não pode alguém saber tanto,
quando se encarcera
a ser tão pouco.

A vida não tem preço
e só se vende
quem desconhece
o seu valor.

Humilde condição


Sinto-me repartido
entre o Ideal
e a Terra,
por tanta discordância...
Não sei mais onde procurar
para que me encontre.
Isto de, constantemente me inquirir, pensar,
leva-me para tão longe,
sem que mais entenda,
e pretender ser grande e especial,
faz com que me esqueça, facilmente,
de como nasci.
Não vale a pena ir
para onde não sou,
e sofra,
e me desiluda,
por esta humilde condição.
Caiba-me na casa
tudo o que herdei
e queira ter vontade
de trabalhar o(s) caminho(s),
para que me baste
e complete.

sábado, 18 de setembro de 2010

Honra...


Honra todos os teus antepassados
e nunca responsabilizes por tua vida,
teus mais directos progenitores.
Humildemente, regracia-lhes
o portento de tua existência.
Se tiveres notícia
de todos os teus predecessores
talvez, mais facilmente, desbraves
o futuro que há em ti,
por evoluir,desde sempre,
e combatas com a espontaneidade da afeição
a cultura do instinto.

sábado, 14 de agosto de 2010

Balança de mim


Continuarei à espera
que um de teus eus,
me bata à porta do dia certo,
que ainda desconheça,
acredito existir.

Poderá emergir
das profundezas de ti,
quando se revelar necessário
e assim tiver de ser,
sem que aparentemente contribuas,
ao cumprimento inteligente dos ciclos,
por entre gastos infernos
e vis sombras,
que sempre te atormentaram,
sem que alguma vez tenhas (pre)sentido,
sem mesmo tu
saberes que ele é meu,
para te redimir
e calibrar a Balança de mim,
ao peso certo,
do amor sem medida.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O teu homem está ferido


O teu homem está ferido
tão profundamente dilacerado,
por entre os muros de sua infância,
e nem ele, nem tu,
querem assumir as chagas
e demonstrar dor.

Mas é tão óbvio
pela necessidade como te mostras,
nos jogos que fomentas,
na agressividade que recrias
na linguagem varonilmente erotizada,
nos modelos com que te identificas,
por quem somente escolhes;
submissamente,
consiga fazer-te sentir bem,
o melhor,
o desejado,
um macho...

Mas o teu homem continua ferido,
sem se querer endurecer,
por que nunca serão mais importantes,
que tu e ele,
os olhos e o espelho que vos vêem.

Não é a arma que faz o guerreiro,
mas como sabiamente a manuseia,
seja qual for o campo de batalha,
o inimigo
ou amigo.

E finge-te,
para que agrades,
de qualquer coisa,
sem nunca o conseguires ser
saudavelmente livre
e Homem.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Desistir


Se me exijo desistir
é por que já estou morto,
incapaz de (pro)criar,
e de (con)viver, com o mal,
e de ser alquimista,
e na imundice...
E nem eu,
nem a mãe natureza
queremos que me sobre decadente,
mas que me lembrem vivo,
enquanto estive disponível
com toda a minha libido
a todo o amor.

Quando se bebeu do cálice
jamais se teme o fim;
quando apenas resta o outono
que anuncia definitivamente
o tal inverno.

E se for esse o meu desejo,
que seja o último,
por que a fortuna de qualquer homem
é; ser digno de sua existência,
por tudo o que semeia,
pelos frutos que ainda dá,
pelos amigos que atrai,
por todos a quem vale...
Estar inteiro
e ter fé.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sedutora


Não forces (de) mais
a tua porta, em mim,
o que guardo é sagrado
e muito ,
mais do que sabes
ou te lembras,
para que te vejam desnudada
e impura.
Não te sirvas de mim
como abismo,
por te pesar tanto
o que de ti (não) fizeste,
transferindo a culpa,
para atingir a salvação...
Desde o início,
conheço-te na mentira
e meretriz.
Já não te chegam (também)
as migalhas do pobre ancião
que airosamente rapas,
nem o que ainda usufruis
de sua descendência,
desonestamente,
sem que alguma vez, tenhas sido,
porventura, cigarra,
e jamais formiga;
mais ignóbil serpente?
A tua terceira casa está vazia
e a vizinhança escondida,
e fora silenciada...
E já não sabes mais de ti,
sem que consigas findar,
nem como fingir.
Mas continuas sedutora
como a morte;
traiçoeira .

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Hoje


Hoje, o Sol estará cinzento,
pouco antes da meia-noite.
Os deuses sentados
nos quatro cantos da mesa
disputarão entre si as sortes
do céu e da Terra
e toda a noite será de discórdia,
até que o Sol brilhe dourado,
pouco depois do meio-dia,
para que enfim sosseguem
e adormeçam,
e haja paz nos corações
de todas as criaturas,
que ainda sonham
com o acordar.

Cruzado


Se me desiludi
foi por que não enfrentei
o que se me apresentava,
mas o que me servia
para que aprendesse.
Não me devo culpabilizar
pelo que desconheço,
nem rejeitar
o que julgo não merecer.
A riqueza conquista-se,
assim, trabalhando,
e são as tarefas mais árduas,
que me fazem entender
o valor da realização
e a grandeza da dignidade.
É pobre quem teima
em não se sentir
e conhecer;
viver na pele errada,
ou parasitando...

E eu,
também, sofro de pobreza,
lutando
para me conquistar,
no que me acontece
ao caminho de mim,
cruzado
com quem se me atravessa,
nem sempre pronto,
nem sempre capaz de me vencer.

Fá-lo por ti


Deixa-te ir
para onde te levas,
sem forçar a procura,
sem temer o que te espera.
Não atraias,
o que deverias
já ter aprendido
e sejas vítima
do que projectas,
mas vibra com a alquimia
das puras transmutações.

Se alguma vez chorares,
fá-lo por ti,
nunca pelo(s) outro(s),
e que seja por fim,
de alegria.

Nunca sintas o tempo;
antes, aproveitá-lo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Não deverá o cão...


Não deverá o cão,
fiel amigo do Homem,
ser tratado como gente,
nem qualquer humano
domado como cão.
Serão bem mais felizes
se cada um, aceitar a sua condição;
um deve obediência,
o outro ter liberdade
para o ser.

Há cão que não conhece dono
e os donos do abandono.

domingo, 1 de agosto de 2010

Puramente


De mim, gostas tanto,
puramente,
que nunca te sentirás
triste e só
a meu lado,
seja o que for,
esteja onde estiver.
Mas, temes a maldade dos fracos,
que fazem da cobardia arma,
da intolerância escudo;
travam o movimento mundo do mundo...
Como se fosse ainda um menino
necessitado de protecção,
de colo, de mãe, de irmã,
sempre de ti, presente.
Como se nunca tivesse crescido
e saído dos braços de tua alma,
como se nunca (re)conhecesse, em mim,
a força do amor que sempre me deste
e soubesse dar valor
ao que é simples,
belo
e sublime,
como tu.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

E que sei eu?


Prefiro não preterir o mal,
para melhor me redimir,
do que me esconder bem
na presunção de santo.
É pouco o que julgo ser,
mas também há tudo
o que todos são.
Quanto mais me acho na diferença,
mais me concluo igual.
O longínquo passado é-nos tão comum
e presente,
recôndito no ínfimo
de nossa grandeza,
sem que quase tudo se saiba.
Deverei aceitar
a intolerância
ou pensar universo?
Todo o fenómeno tem uma origem
e gere efeito(s),
e todos os corpos
estão sujeitos às leis da física...

E que sei eu
de tudo isto,
e de mim?
Não sei!
Muito
pouco!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Em cima de uma cadeira


Depois de tanto
e desesperadamente
te justificares
como, agora, consegues,
esgotado o argumento,
e sem haver público que te sustente
viver, em silêncio, de pé,
em cima de uma cadeira,
com a amargura de tuas respostas,
a sós contigo,
no palco de tudo o que aconteceu?
Já não tens refúgio
na agressão vinda de fora,
nem palavras que te magoem,
nem feridas que maquilhem
a inocência com que te mascaras,
nem aplausos que te iludam.
Já não tens mais espaço em ti
para tanta encruzilhada,
nem esperteza para toda a imaginação.
Já não há espelho que te engane,
nem vergonha que não te confronte
a todo o tempo em que te pensas
e te debruças sobre o desejo de amanhecer.
E teimas em te fingir
de sobrevivente imbatível,
sempre desertor do que incomoda e trai,
em não morrer no abandono que te persegue,
em esconder o que não te pertence,
nas histórias que te contaram.
As outras melancolicamente guardas,
sem as querer ouvir,
para que nunca sejas tu
te descubras na loucura,
e te conheças na responsabilidade.
Como consegues ainda
te equilibrar em cima da cadeira,
para que melhor te vejam e te admirem
todos os tristes que dominas,
quando estás dentro de um poço,
onde nem um fio de luz cai?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Império


Depois do Édipo de Tolerânica,
da Revolução da Cruz,
tornou-se lentamente poderoso, Temporal, o império,
que dificilmente de outro modo resistiria.
Alastrou-se mais tarde por terras novas
e impôs-se a todas as almas,
como único representante da verdade (e) do Divino.

E continua Roma
a ser, a capital
do desassossego da fé,
os bastidores
do poder do capital,
do império.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Que idade terá Deus?


Quando Deus criou o Homem,
tê-lo-á feito à Sua imagem.

Ou terão alguns homens
inventado Deus
(O que nos criou e nos castiga),
para que se sentissem Ele
e assim reinassem,
sobre os puros,
os carentes de acreditar,
os que O procuram,
os desejosos de salvação,
os perdidos,
os indesejáveis,
os desordeiros,
os aflitos,
outros poderosos?...

Na história do Homem,
este Deus nasce bem mais tarde,
do que Ele.

Que idade terá, então, Deus?

Juízos


Ontem, olhaste-me fixamente.
E mostraste-te, como sempre,
de modo a que te apreciem
e te valorizem,
como único, o melhor
e jamais te rejeitem...
Por detrás do teu sorriso,
havia um dissimulado desdém,
e de mim, os juízos,
que te tranquilizassem.
E deixei que representasses
sem te saberes tão mau actor,
para que aliviasses o sofrimento
de teus complexos,
e por o imaginar medonho.

Como podes ainda estar tão longe
de seres tu,
valorizando-me de mais,
no que tanto desprezas
por tudo o que em ti temes?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Eutanásia


Perdi o jeito para viver, assim.
Já não sei.
Não me apetece mais.
Tenho o direito de nos querer felizes
e o dever de ser autêntico.
Tudo é-me banal
e feio,
e mau...
Nem o amor já me surpreende,
nem eu...

Abreviarei a vida,
sem dor,
nem sofrimento,
ao incurável ontem,
ao instável e ansioso amanhã,
para que seja o agora,
num espaço para todos, habitável,
em cada um de nós,
por nós,
vivo!

domingo, 11 de julho de 2010

Solidão


Amei-me em ti,
sem o saber de tão grave.
Deixei que me habitasses
sem querer ver teus passos
percorrendo-me habilmente,
por entre o silêncio de meu sonho.
Sentia-te como minha
na verdade que te queria,
no prazer compartilhado,
no apoio consentido...
E achava-te bela e pura
como um pequeno lírio
sumido num campo de muitos verdes.
E eu sempre que podia
te amparava dos ventos,
protegia da chuva,
acariciava como o sol...
E tu dizias-te constantemente perdida
e chamavas por mim
como pássaro ainda no ninho
que espera alimento de sua mãe,
recriavas-me na importância
que imaginava que me desses
e nem respirava
sem que te pensasse,
e nem me via
sem que te pressentisse,
e não te sabia
por que me perdia no medo
que arduamente me trabalhaste.
Tudo parecia correr
conforme me prometera
e não havia mais tempo para nada,
senão escutar-me nas tuas palavras,
e assumir-te nos meus pecados,
e carregar-te aos ombros
quando temias pisar o chão, de cansaço
e te mostravas como criança, diante o pai,
compreender-te pelas noites fora,
quando te apetecia não dormir
e apenas falar de ti.
E contavas-me como te criaras,
e em vez de fadas
consternavas-me com os monstros
que te seguiam desde o berço
e todos os animais
que aniquilaste nos bosques,
que conquistaste,
em noites de qualquer Lua,
nunca por querer,
mas como um anjo obediente,
que cumpre os sacrifícios, os rituais,
solicitados pelo seu Senhor.
Das almas que infernizaste e roubaste
como se justa e fiel, fosses,
aos desígnios de toda a natureza.
E de como te ajustavas
à realidade da sobrevivência,
como se a fragilidade de tua sensibilidade
te personificasse de ingénua.
E sempre que te via eras imaculada...

E queria continuar
esse enamoramento comigo,
convencido de haver felicidade,
algum dia por aqui,
quiçá em outro qualquer lugar,
onde também fosse possível lá estares,
sem de facto, nunca te ter amado.
Mas me preferia assim
mesmo triste e só,
vendido a um desejo qualquer
que te coroava
como se eu fosse rei
e homem...

E quando te quis
não te encontrei
por que nunca assim exististe.
Quando acordei
eras tão pouco
e insignificante,
paupérrima,
e feia como o diabo.

Não há educação,
conhecimento,
e/ou reconstituição
persona ou às entranhas),
que te valham,
nem amor,
nem perdão
que te dêem vida.
Lentamente te matas,
em tudo que mexendo, estragas,
por tão azeda seres,
sem ainda teres apunhalado de vez
o cordão que te prende
ao mais vil e impuro ventre
da puta-mãe que te pariu,
e que nunca confessou
com quem dormiu
para que nascesses.

E tu sim,
és a Solidão,
e ela.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O meu relógio


É sobre o céu de outros
que trabalho o meu.
E faço das palavras
a poesia de cada um,
e também um de meus melhores,
de muitos, rios,
de mim nascidos,
que em mim desaguam;
o da procura,
ao oceano do sem fim.

O meu relógio
tem pelo menos,
dez ponteiros;
para que assim entenda
o tempo
e a vida...

O meu relógio
pulsa
como um grande coração!

sábado, 3 de julho de 2010

Os cravos estão mortos


Como é possível,
os homens e as mulheres,
que fizeram eclodir a primavera,
depois de tanto sofrerem
soterrados num longo
e terrífico inverno,
permitirem que um outono
cinzento-provações,
lhes cubra as cabeças,
ameaçando o futuro da esperança
por que lutaram,
sem que nada incomode a lembrança,
como se agora, seu sofrer
fosse de cegueira
ou a demência?

Os cravos murcharam,
estão mortos!

Nunca me aceitarei


Nunca me aceitarei
no que me prende à Terra,
quando me convenceram
da perfeição ao céu.
Não foi, quem dizem,
quem nos criou.
Só assim, poderei
compreender a natureza,
aceitar o divino
e viver sem temor
e culpa.

Mas continuarei
a achar-me ridículo,
com as coisas
que visto
e inúteis
com que convivo
e diariamente
me prendem
me empobrecem.

Não sei no que acredito

Não sei no que acredito.
Procuro-me
no que dificilmente
alguma vez encontrarei...
Mas não me consigo deixar possuir
pelo vazio do silêncio;
com as dores da estagnação
e morrer sem permitir ao pensamento
que voe para onde me queira levar.
Por que um céu assim
tem um azul mais azul
e as searas são mesmo de oiro,
quando só ele sem receios,
me dá a liberdade
por entre eles flutuar.
E os homens são mais autênticos
sem o saberem,
quando se confundem
com toda a natureza
e tudo é mais parecido
com o que acredito
na minha permanente busca
à revelação.
E sinto-me insignificante
ao todo do saber
sem compreender os limites
e o tempo
que estão para além de mim,
neste agora, que constantemente me morre,
até quando tudo permitir.

Não sei no que acredito,
mas há uma voz em mim
que clama por Ele,
mesmo que O negue.

Sonho

Sonho
com alguém
que veja melhor
do que eu,
para que me indique
o meu caminho,
e possa, assim,
ver a luz de mim,
e saiba feliz,
agradecer
e retribuir,
dando-me
no que sou,
possuo,
penso
e sinto.

Sonho
com a evolução.
Renego
o que já de mim
morreu.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Elevar

Servi-me de ti,
para exorcizar
os meus instintos,
confrontar
os meus fantasmas
mais recônditos...
E tu de mim,
para exercitares
o poder do velho ego,
que te compensasse
da complexidade, desde agora...
E não nos conseguimos
elevar no sentimento
que nos unisse
ao futuro dos afectos,
ao amor...

Quando dou,
já recebo!

Guerreio-me

Sinto-me dividido
entre Animal
e Deus.
Ainda, acredito
no Homem
e no Ideal
por desvendar.

Guerreio-me
na solidão
para nunca ser só.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Predador

Sinto, ainda o medo
de teus silenciosos
e repetidos passos,
na invasão premeditada
do intimo mais sagrado,
sobre as perdas de uns
para teu usufruto,
num inesquecível outono.
Nas pisadas deixadas
de teus contraditórios actos,
na eloquência de teu desespero,
na incongruência de tuas (in)verdades,
na ansiedade de justificação,
na vítima que se inventa à pena,
na culpa que promete pesar,
não dar descanso...

Finges-te esquecido
do que tudo sei,
incutes confusão no óbvio
e mascaras-te de virgem,
como se nunca tivesse já acontecido
uma outra primeira vez.

És artista da vida,
perdido no papel que te cabe,
representando ao espelho,
temendo o palco da consciência,
sem compaixão alguma
pelo drama dos que te restam
e ainda te amam.

Reinas no mundo da ignorância,
como um louco,
sonhando com um tesouro,
que te compense a pobreza.

Depois de ruir a casa,
aconselho-te pela última vez,
que te lances ao mar
das cristalinas emoções
e aprendas a nadar
como mais um peixe
que cresce na igualdade,
de Aquário,
até que encontres
o sol da tua paz.

Não pertence o perdão
ao predador
e jamais te acharás, aqui.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Homem...

O Homem
já não tem idade
para tanta irresponsabilidade,
se prender a instintivas tradições,
se refugiar em utópicos mitos,
inventar crenças
que lhe sirvam de escudo,
e lhe dêem poder...
Como se a inteligência da natureza
fosse estática
e ele a obra prima
do Criador.
A caverna
não é mais seu habitat.

E somente
o universo persiste
como tecto,
sabedoria
e futuro,
espelhado no infinito
de sua alma.

domingo, 13 de junho de 2010

Fujo

Fujo
para pôr fim,
parar,
senão enlouqueço;
é um desmaio.
A terra
e a solidão
fazem-me crescer.
Medito
para não pensar,
(re)educo o crer
e procuro-me
no caminho
e no amor.

Aqui, nasci,
aqui, aguardo
a morte
ou um (re)começo.
Aqui, sou mais eu,
desprendido
de vícios
e de olhares
que me ceguem.
Aqui sou mais de outros
mesmo por (re)conhecer.
E aguardo na serenidade
de minha madrugada
um outro amanhã,
onde vingue o meu sol.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O país da dignidade

Apagam-se memórias,
despreza-se gente,
corrompe-se a esperança,
desertifica-se o hoje,
decreta-se o incumprível,
persiste-se ao caos...

O que dirá de nós
o futuro
e onde será o país
da dignidade,
para quem ainda crê
ser também Portugal?

Ai, os ventos
que tardam
e as mordaças
que calam o grito
da vondade
plural!

Se acordarmos tarde,
tarde será,
para que o dia
seja pleno de (r)evolução,
nasça o Sol em cada um
e haja outro amanhã!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Aprenderei...

Aprenderei
o necessário,
para que me entendam
em todos os lugares
e assim também possa
decifrar o sentido
de todas as palavras
que me sejam declaradas
com amor,
e que advenham de Ti.

Mas Contigo
falarei apenas,
na língua de minha alma,
para que me ouça
e Te (pres)sinta
daqui, onde (re)nasci
e me (re)fiz,
em português,
até ao infinito
de todos nós,
sem que, o tempo
nos conte
e a noite
nos caia,
mesmo que sejam
breves as emoções.

sábado, 29 de maio de 2010

Dois senhores

Aquele que reconhece,
com fanatismo
quem faustosamente
diz ser representante
de Cristo na Terra,
nada sabe de Jesus,
não é um bom cristão,
nem um bom homem.

Neste circo da existência;
somos amestrados
pelas armas do medo,
submissos à sombra,
presos à insignificância,
incapazes de transcender as crenças
e de tocar com liberdade
o divino.

Não se pode servir
a dois senhores...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Estes...

Estes,
que outrora foram os revoltosos,
são agora os resignados,
vendidos ao poder,
limitados pelo que usufruem,
presos nas teias
que entre si teceram,
esquecidos dos ideais ...
Esperando que outros surjam
por entre seus pesadelos,
e se aproveitem de suas fraquezas,
e façam, agora a mudança,
convencidos de verdades,
lúcidos de sua classe,
conscientes da grandeza do todo...
E os soltem , sem quererem,
de seus fantasmas
e de malévolas ambições.

E livres estarão
de nunca apenas,
se pertencerem
e de que não lhes roubem
o amor.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Fujo

Fujo,
não para esquecer,
mas para alcançar
liberdade.
Solto os animais
que me habitam
e apodera-se-me
outra coragem,
e luto com a sombra,
para desventrar,
no mais profundo dos mistérios
da existência,
as entranhas do infinito,
até à soberana consciência
do todo, em mim.

Fujo,
por que (pres)sinto,
o inimaginável,
sem o conseguir decifrar.
E lucidamente
confundo-me
com a loucura
e a insatisfação.

É difícil
crer
e ser terreno,
ser deus
e também carne,
amar
e sobreviver.

Fujo,
com esperança,
que algum dia
me encontre.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Veneno

Cura-se veneno
com veneno.
Para veneno,
veneno e meio
(em pequenas doses);
não sendo adepto
desta mesinha.

Quanto mais se envenena
mais se contamina,
até se morrer
de infelicidade,
e só.

O silêncio
é o antídoto
que melhor neutraliza
o veneno da culpa.

Estou imune
ao desamor
e à pobreza.

Espero
às portas da vingança,
para perdoar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sem me mentir

Perdi já tempo
a querer mostrar
o que não sou,
quando valho mais
do que pareço
e esperam de mim.

Esta coisa
do invólucro
só deverá reflectir
a totalidade
da essência,
sem fazer batota,
me mentir.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O sonho

O sonho
é maior que eu,
para que me imponha
a não vivê-lo.
Mesmo que me (des)iluda,
não me resignarei
à força da gravidade,
à cristalização...

O sonho
leva-me ao melhor de mim.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Não sei o hoje

Não sei o hoje.
Ainda agora nasceu.
Mas tão longe irão a horas
depois de bem alto ir o dia,
que de tarde será tão tarde,
até que finde a tristeza
depois de se pôr o passado,
e haja uma noite curta
entre o longo hoje,
e o esperançoso amanhã.

Não sei o hoje,
temo o que ainda não sei,
mas creio no (re)início.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Caminho

A vida corre
depressa de mais,
para que não só faça
o que me dá prazer,
mas também o que me é devido.

Nem sempre
entendo
este caminho
de ser,
a não ser
quando o sou,
caminhando-o.

domingo, 25 de abril de 2010

Outra vida

Dei-me outra vida,
entregando-me
entre braços da noite
ao que intensamente
me foi sonho,
e como eternidade
senti...

Quando acordei
logo ali, morri,
para que continue esta,
aqui
e agora,
motivada
por outros sonhos
que nem sempre
são realidade.

E teimo
em me querer de sonhos
sem primeiro me crer
e me sonhar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Início...

Início
é referência,
caminho
é união,
fim
é propósito
e (re)início.
E inteligência
é tudo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Um

Estou cansado
de ser só um
e um.
Quero ser
mais de um
e mais um.
E apenas um
para descansar.

Solidão

Sentir-me aqui,
nos confins do universo,
limitado a este pequeno mundo,
onde nem tudo
o que conheço desgosto,
e o que me é esquisito, atrai,
à espera que me descubram,
e me salvem,
sem certezas de futuro
e de haver alguma ponte,
dá-me angústia,
aumenta-me a solidão.

Crio esperanças,
invento crenças
e imagino-me como eleito,
e assim me compenso da pequenez
e ao medo do fim.

Não Te entendo,
e nada sei de Ti
mas muito provavelmente
sabes que existo.
E assim jogamos;
perdendo-Te sempre,
talvez para que, um dia,
Te aprenda...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Minha pequena horta

Trabalho com deleite
esta terra
que me sustenta.
Semeio cuidadosamente
e com preceito,
cada grão de vida,
que se fará luxuriantemente verde
e assim é desejado,
e se sobreporá,
pelo caminho da luz,
crescendo até aos limites de si,
ao castanho que me dá chão,
e sinto quando piso,
e cheiro quando lavro,
e me suporta e me prende
quando me evado sem mim...
E faço humildemente
da minha pequena horta
o orgulho do mundo,
para que o sacrifício da morte,
dê ao meu labor
um sentido maior,
e me recompense
da culpa,
e do poder
e de outras anomalias.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Não poderemos morrer...

Como pode o mal (ou o bem) de alguns
prejudicar muitos,
e haver tanto fanatismo
e solidariedade
por quem tão orgulhosamente
corrói
e tanto desprezo
por quem sem defesas sofre
e tristemente se perde?

Onde mora o homem de género;
capaz, de fazer nascer o futuro
e do amor que justifique sua grandeza?

Entre tanta pobreza
haverá quem, certamente,
esteja bem acordado
e pleno de sabedoria,
pronto para marchar
e a emergir do silêncio...

Não poderemos morrer
de inércia,
esvaídos de memórias.

Não poderemos morrer.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mesmo como poeta

Tudo é um mistério,
até ao que me proponho,
sem nunca perceber bem a razão
do que ao certo me motiva
e me impulsiona
a esta constante procura
e mutação.
Os versos são como rios
difíceis de trancar
dentro da nascente,
de todas as recordações.
E pesado é o mundo
que carrego,
sem nunca entender,
se é mal
ou bênção.

Mas, valha-me o amor,
por que só nele
me acredito
e conduzo,
mesmo como poeta,
esperando que a vida se escreva
mesmo de poucos cantos,
mas belíssimos,
em poesia.

domingo, 28 de março de 2010

Berço de poesia

É por entre estas paredes
onde escrevo o que me digo,
que habito nas horas mortas
e me refugio em silêncio,
das exigentes rotinas de vencedores,
das expectativas a viris respostas,
do confronto em esforço com a dúvida,
da carência de quem mal se conhece...
Fecho-me neste berço de poesia,
onde atentamente tudo em mim observo,
rendido ao incentivo da procura,
na solidão que me conforta ao (re)encontro
do que fui, desde sempre,
e não me lembro,
até onde, por fim me completarei,
mesmo que esteja, longe desse entendimento,
em misterioso labirinto.
Estimulado, pelo desejo de liberdade,
a vencer-me no preconceito,
a lutar contra todos os medos do medo,
e a provocar a escrita ao movimento,
e a protegê-la de maus olhares...
Para que em brincadeiras de palavras
me construa à vontade, nos degraus
do que me eleva,
e provoca emoções
e me dá sentido...
E haja quem me queira
tão somente
pelas palavras,
e se sirva de minhas palavras,
se delas souberem mais de si
e de como brincar,
assim comigo,
para que se seja poesia,
para além de qualquer palavra,
e mais do que poeta.

sábado, 27 de março de 2010

Suspiros

Tudo está em mim.
E assim, sou reflexo do céu.
E o espelho deve estar em consonância com a imagem.
E por cada suspiro que dou,
há uma estrela que aumenta a intensidade de seu brilho.
E mesmo que queira,
nem sempre há brilho suficiente, numa qualquer estrela,
que me leve a ter uma respiração anelante.
E nem sempre nos meus suspiros
há verdade capaz de provocar movimento
seja ao que for.

E continuo observando o céu, em mim,
e o firmamento onde me perco,
à espera de qualquer entendimento
que justifique este sincronismo,
para além desta realidade.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Revelação

Paro.
Paro e escuto-me atentamente.
E traduzo por palavras,
o que em mim estava adormecido,
desde as profundezas dos tempos,
e que por entre tantos afazeres
que me justificassem
e me confundiam,
julgava perdido,
tudo o que sinto.
E declamo em voz alta
os versos que me nascem do infinito,
para que me ouça, convicto,
e saiba definitivamente quem sou,
e procure com correcção
vestir este caminho,
que sai tão lentamente do nevoeiro,
e me estava desenhado há muito.
E assim entender melhor
o sentido da existência,
e percorrê-lo coerentemente,
com firmeza,
a cada passada pelas conquistas,
ao lado, também, de quem ainda
precisa que lhe dê as mãos,
e não teve coragem de parar
e de se ouvir com atenção,
nem de se perdoar.
Paro
para que me chegue o tempo,
à revelação.
Paro,
e acredito-me,
para que me cumpra
no fado,
que afinal, não é só meu,
para que também seja,
e por bem,
de todos.