Sinto, ainda o medo
de teus silenciosos
e repetidos passos,
na invasão premeditada
do intimo mais sagrado,
sobre as perdas de uns
para teu usufruto,
num inesquecível outono.
Nas pisadas deixadas
de teus contraditórios actos,
na eloquência de teu desespero,
na incongruência de tuas (in)verdades,
na ansiedade de justificação,
na vítima que se inventa à pena,
na culpa que promete pesar,
não dar descanso...
Finges-te esquecido
do que tudo sei,
incutes confusão no óbvio
e mascaras-te de virgem,
como se nunca tivesse já acontecido
uma outra primeira vez.
És artista da vida,
perdido no papel que te cabe,
representando ao espelho,
temendo o palco da consciência,
sem compaixão alguma
pelo drama dos que te restam
e ainda te amam.
Reinas no mundo da ignorância,
como um louco,
sonhando com um tesouro,
que te compense a pobreza.
Depois de ruir a casa,
aconselho-te pela última vez,
que te lances ao mar
das cristalinas emoções
e aprendas a nadar
como mais um peixe
que cresce na igualdade,
de Aquário,
até que encontres
o sol da tua paz.
Não pertence o perdão
ao predador
e jamais te acharás, aqui.