Morreu, um dias destes,
sem se saber ao certo quando e onde,
de desgosto de importugalidade,
um poeta incógnito,
que muito amara a Terra
que lhe servira de berço
e a Gente que com ele cresceu;
e todos eram esperança e força
e Uno.
O poeta não aguentou mais sentir
o feder a pobreza,
nem haver já heróis, fazedores de sonhos,
e observar as sortes só de alguns,
que muitos outros esmagavam.
O Espírito estava demasiado contaminado
para que conseguisse dignamente exaltá-Lo
e ser ouvido, principalmente pelos agrilhoados...
E as palavras sucumbiram,
a voz da Alma se apagou
e por fim, com os últimos versos, confusos, mas afiados, que escrevera,
cortou os pulsos, para que lhe faltasse sangue e parasse o coração.
Enquanto se perdia do corpo, se despediu, escrevendo
«Morte aos traidores, para que se salve Portugal!»
Três poetas, seus amigos lançaram
ao Mar da grande Praia
os seus restos mortais,
porque eles, também o eram,
havia só Um,
envoltos pela Bandeira,
e por ele(s) até hoje estão de luto, os poetas,
até que (re)nasça o Sol de todos
e Ela,
a própria,
a Poesia!