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domingo, 28 de março de 2010

Berço de poesia

É por entre estas paredes
onde escrevo o que me digo,
que habito nas horas mortas
e me refugio em silêncio,
das exigentes rotinas de vencedores,
das expectativas a viris respostas,
do confronto em esforço com a dúvida,
da carência de quem mal se conhece...
Fecho-me neste berço de poesia,
onde atentamente tudo em mim observo,
rendido ao incentivo da procura,
na solidão que me conforta ao (re)encontro
do que fui, desde sempre,
e não me lembro,
até onde, por fim me completarei,
mesmo que esteja, longe desse entendimento,
em misterioso labirinto.
Estimulado, pelo desejo de liberdade,
a vencer-me no preconceito,
a lutar contra todos os medos do medo,
e a provocar a escrita ao movimento,
e a protegê-la de maus olhares...
Para que em brincadeiras de palavras
me construa à vontade, nos degraus
do que me eleva,
e provoca emoções
e me dá sentido...
E haja quem me queira
tão somente
pelas palavras,
e se sirva de minhas palavras,
se delas souberem mais de si
e de como brincar,
assim comigo,
para que se seja poesia,
para além de qualquer palavra,
e mais do que poeta.

sábado, 27 de março de 2010

Suspiros

Tudo está em mim.
E assim, sou reflexo do céu.
E o espelho deve estar em consonância com a imagem.
E por cada suspiro que dou,
há uma estrela que aumenta a intensidade de seu brilho.
E mesmo que queira,
nem sempre há brilho suficiente, numa qualquer estrela,
que me leve a ter uma respiração anelante.
E nem sempre nos meus suspiros
há verdade capaz de provocar movimento
seja ao que for.

E continuo observando o céu, em mim,
e o firmamento onde me perco,
à espera de qualquer entendimento
que justifique este sincronismo,
para além desta realidade.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Revelação

Paro.
Paro e escuto-me atentamente.
E traduzo por palavras,
o que em mim estava adormecido,
desde as profundezas dos tempos,
e que por entre tantos afazeres
que me justificassem
e me confundiam,
julgava perdido,
tudo o que sinto.
E declamo em voz alta
os versos que me nascem do infinito,
para que me ouça, convicto,
e saiba definitivamente quem sou,
e procure com correcção
vestir este caminho,
que sai tão lentamente do nevoeiro,
e me estava desenhado há muito.
E assim entender melhor
o sentido da existência,
e percorrê-lo coerentemente,
com firmeza,
a cada passada pelas conquistas,
ao lado, também, de quem ainda
precisa que lhe dê as mãos,
e não teve coragem de parar
e de se ouvir com atenção,
nem de se perdoar.
Paro
para que me chegue o tempo,
à revelação.
Paro,
e acredito-me,
para que me cumpra
no fado,
que afinal, não é só meu,
para que também seja,
e por bem,
de todos.