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quinta-feira, 29 de julho de 2010

E que sei eu?


Prefiro não preterir o mal,
para melhor me redimir,
do que me esconder bem
na presunção de santo.
É pouco o que julgo ser,
mas também há tudo
o que todos são.
Quanto mais me acho na diferença,
mais me concluo igual.
O longínquo passado é-nos tão comum
e presente,
recôndito no ínfimo
de nossa grandeza,
sem que quase tudo se saiba.
Deverei aceitar
a intolerância
ou pensar universo?
Todo o fenómeno tem uma origem
e gere efeito(s),
e todos os corpos
estão sujeitos às leis da física...

E que sei eu
de tudo isto,
e de mim?
Não sei!
Muito
pouco!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Em cima de uma cadeira


Depois de tanto
e desesperadamente
te justificares
como, agora, consegues,
esgotado o argumento,
e sem haver público que te sustente
viver, em silêncio, de pé,
em cima de uma cadeira,
com a amargura de tuas respostas,
a sós contigo,
no palco de tudo o que aconteceu?
Já não tens refúgio
na agressão vinda de fora,
nem palavras que te magoem,
nem feridas que maquilhem
a inocência com que te mascaras,
nem aplausos que te iludam.
Já não tens mais espaço em ti
para tanta encruzilhada,
nem esperteza para toda a imaginação.
Já não há espelho que te engane,
nem vergonha que não te confronte
a todo o tempo em que te pensas
e te debruças sobre o desejo de amanhecer.
E teimas em te fingir
de sobrevivente imbatível,
sempre desertor do que incomoda e trai,
em não morrer no abandono que te persegue,
em esconder o que não te pertence,
nas histórias que te contaram.
As outras melancolicamente guardas,
sem as querer ouvir,
para que nunca sejas tu
te descubras na loucura,
e te conheças na responsabilidade.
Como consegues ainda
te equilibrar em cima da cadeira,
para que melhor te vejam e te admirem
todos os tristes que dominas,
quando estás dentro de um poço,
onde nem um fio de luz cai?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Império


Depois do Édipo de Tolerânica,
da Revolução da Cruz,
tornou-se lentamente poderoso, Temporal, o império,
que dificilmente de outro modo resistiria.
Alastrou-se mais tarde por terras novas
e impôs-se a todas as almas,
como único representante da verdade (e) do Divino.

E continua Roma
a ser, a capital
do desassossego da fé,
os bastidores
do poder do capital,
do império.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Que idade terá Deus?


Quando Deus criou o Homem,
tê-lo-á feito à Sua imagem.

Ou terão alguns homens
inventado Deus
(O que nos criou e nos castiga),
para que se sentissem Ele
e assim reinassem,
sobre os puros,
os carentes de acreditar,
os que O procuram,
os desejosos de salvação,
os perdidos,
os indesejáveis,
os desordeiros,
os aflitos,
outros poderosos?...

Na história do Homem,
este Deus nasce bem mais tarde,
do que Ele.

Que idade terá, então, Deus?

Juízos


Ontem, olhaste-me fixamente.
E mostraste-te, como sempre,
de modo a que te apreciem
e te valorizem,
como único, o melhor
e jamais te rejeitem...
Por detrás do teu sorriso,
havia um dissimulado desdém,
e de mim, os juízos,
que te tranquilizassem.
E deixei que representasses
sem te saberes tão mau actor,
para que aliviasses o sofrimento
de teus complexos,
e por o imaginar medonho.

Como podes ainda estar tão longe
de seres tu,
valorizando-me de mais,
no que tanto desprezas
por tudo o que em ti temes?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Eutanásia


Perdi o jeito para viver, assim.
Já não sei.
Não me apetece mais.
Tenho o direito de nos querer felizes
e o dever de ser autêntico.
Tudo é-me banal
e feio,
e mau...
Nem o amor já me surpreende,
nem eu...

Abreviarei a vida,
sem dor,
nem sofrimento,
ao incurável ontem,
ao instável e ansioso amanhã,
para que seja o agora,
num espaço para todos, habitável,
em cada um de nós,
por nós,
vivo!

domingo, 11 de julho de 2010

Solidão


Amei-me em ti,
sem o saber de tão grave.
Deixei que me habitasses
sem querer ver teus passos
percorrendo-me habilmente,
por entre o silêncio de meu sonho.
Sentia-te como minha
na verdade que te queria,
no prazer compartilhado,
no apoio consentido...
E achava-te bela e pura
como um pequeno lírio
sumido num campo de muitos verdes.
E eu sempre que podia
te amparava dos ventos,
protegia da chuva,
acariciava como o sol...
E tu dizias-te constantemente perdida
e chamavas por mim
como pássaro ainda no ninho
que espera alimento de sua mãe,
recriavas-me na importância
que imaginava que me desses
e nem respirava
sem que te pensasse,
e nem me via
sem que te pressentisse,
e não te sabia
por que me perdia no medo
que arduamente me trabalhaste.
Tudo parecia correr
conforme me prometera
e não havia mais tempo para nada,
senão escutar-me nas tuas palavras,
e assumir-te nos meus pecados,
e carregar-te aos ombros
quando temias pisar o chão, de cansaço
e te mostravas como criança, diante o pai,
compreender-te pelas noites fora,
quando te apetecia não dormir
e apenas falar de ti.
E contavas-me como te criaras,
e em vez de fadas
consternavas-me com os monstros
que te seguiam desde o berço
e todos os animais
que aniquilaste nos bosques,
que conquistaste,
em noites de qualquer Lua,
nunca por querer,
mas como um anjo obediente,
que cumpre os sacrifícios, os rituais,
solicitados pelo seu Senhor.
Das almas que infernizaste e roubaste
como se justa e fiel, fosses,
aos desígnios de toda a natureza.
E de como te ajustavas
à realidade da sobrevivência,
como se a fragilidade de tua sensibilidade
te personificasse de ingénua.
E sempre que te via eras imaculada...

E queria continuar
esse enamoramento comigo,
convencido de haver felicidade,
algum dia por aqui,
quiçá em outro qualquer lugar,
onde também fosse possível lá estares,
sem de facto, nunca te ter amado.
Mas me preferia assim
mesmo triste e só,
vendido a um desejo qualquer
que te coroava
como se eu fosse rei
e homem...

E quando te quis
não te encontrei
por que nunca assim exististe.
Quando acordei
eras tão pouco
e insignificante,
paupérrima,
e feia como o diabo.

Não há educação,
conhecimento,
e/ou reconstituição
persona ou às entranhas),
que te valham,
nem amor,
nem perdão
que te dêem vida.
Lentamente te matas,
em tudo que mexendo, estragas,
por tão azeda seres,
sem ainda teres apunhalado de vez
o cordão que te prende
ao mais vil e impuro ventre
da puta-mãe que te pariu,
e que nunca confessou
com quem dormiu
para que nascesses.

E tu sim,
és a Solidão,
e ela.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O meu relógio


É sobre o céu de outros
que trabalho o meu.
E faço das palavras
a poesia de cada um,
e também um de meus melhores,
de muitos, rios,
de mim nascidos,
que em mim desaguam;
o da procura,
ao oceano do sem fim.

O meu relógio
tem pelo menos,
dez ponteiros;
para que assim entenda
o tempo
e a vida...

O meu relógio
pulsa
como um grande coração!

sábado, 3 de julho de 2010

Os cravos estão mortos


Como é possível,
os homens e as mulheres,
que fizeram eclodir a primavera,
depois de tanto sofrerem
soterrados num longo
e terrífico inverno,
permitirem que um outono
cinzento-provações,
lhes cubra as cabeças,
ameaçando o futuro da esperança
por que lutaram,
sem que nada incomode a lembrança,
como se agora, seu sofrer
fosse de cegueira
ou a demência?

Os cravos murcharam,
estão mortos!

Nunca me aceitarei


Nunca me aceitarei
no que me prende à Terra,
quando me convenceram
da perfeição ao céu.
Não foi, quem dizem,
quem nos criou.
Só assim, poderei
compreender a natureza,
aceitar o divino
e viver sem temor
e culpa.

Mas continuarei
a achar-me ridículo,
com as coisas
que visto
e inúteis
com que convivo
e diariamente
me prendem
me empobrecem.

Não sei no que acredito

Não sei no que acredito.
Procuro-me
no que dificilmente
alguma vez encontrarei...
Mas não me consigo deixar possuir
pelo vazio do silêncio;
com as dores da estagnação
e morrer sem permitir ao pensamento
que voe para onde me queira levar.
Por que um céu assim
tem um azul mais azul
e as searas são mesmo de oiro,
quando só ele sem receios,
me dá a liberdade
por entre eles flutuar.
E os homens são mais autênticos
sem o saberem,
quando se confundem
com toda a natureza
e tudo é mais parecido
com o que acredito
na minha permanente busca
à revelação.
E sinto-me insignificante
ao todo do saber
sem compreender os limites
e o tempo
que estão para além de mim,
neste agora, que constantemente me morre,
até quando tudo permitir.

Não sei no que acredito,
mas há uma voz em mim
que clama por Ele,
mesmo que O negue.

Sonho

Sonho
com alguém
que veja melhor
do que eu,
para que me indique
o meu caminho,
e possa, assim,
ver a luz de mim,
e saiba feliz,
agradecer
e retribuir,
dando-me
no que sou,
possuo,
penso
e sinto.

Sonho
com a evolução.
Renego
o que já de mim
morreu.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Elevar

Servi-me de ti,
para exorcizar
os meus instintos,
confrontar
os meus fantasmas
mais recônditos...
E tu de mim,
para exercitares
o poder do velho ego,
que te compensasse
da complexidade, desde agora...
E não nos conseguimos
elevar no sentimento
que nos unisse
ao futuro dos afectos,
ao amor...

Quando dou,
já recebo!

Guerreio-me

Sinto-me dividido
entre Animal
e Deus.
Ainda, acredito
no Homem
e no Ideal
por desvendar.

Guerreio-me
na solidão
para nunca ser só.